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quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Seitas



Seita (< latim secta = "seguidor", proveniente de sequi = "seguir") é um conceito utilizado para designar, em princípio, simplesmente qualquer doutrina, ideologia ou sistema que divirja da correspondente doutrina ou sistema dominante (ou mais de um, quando for o caso), bem como também para designar o próprio conjunto de pessoas (o grupo organizado ou movimento aderente a tal doutrina, ideologia ou sistema), os quais, conquanto divergentes da opinião geral, apresentam significância social.
Usualmente conecta-se o termo à sua significação específica (stricto sensu) apenas religiosa, com o que por "seita" entende-se, a priori e de ordinário, imediatamente "seita religiosa". Porém, tal nexo causal não é imperativo, pois nem sempre uma seita está no domínio religioso.

Índice
1 Considerações filosóficas
2 Etimologia
3 Seita religiosa
4 No dealbar do III milênio
5 Ver também

Considerações filosóficas
Seja qual for a sua inserção semiológica, imprescindível é saber que seita, como ideologia ou como grupo que a professa, está colocada em desfavor no jogo do poder, face ao(s) detentor(es) da dominação. Isso vale em religião, política, ou outra qualquer expressão humana.
Seita é conceito sempre relativo em termos circunstanciais de espaço-tempo e de grau de abrangência cultural e/ou populacional.
Além disso, é conceito dinâmico, pois o que é seita num dado lugar, num dado momento histórico e para dada abrangência cultural e/ou populacional, pode vir a ser a ideologia dominante numa outra circunstância (espaço-tempo, cultura etc. diferentes, subsequentes).
O conceito essencial de seita conecta-se com o de heresia, já que este significa o conjunto de idéias que, em princípio e face às consideradas dominantes, destas divergem e devem, portanto, ser rejeitadas. A questão da rejeição é, naturalmente, tão pura e simplesmente, apenas imposição do poder da estrutura ideológica que está no domínio.


Etimologia
A palavra seita provém do latim secta (de sequi, que significa seguir), um curso de acção ou forma de vida, designando também um código comportamental ou princípios de vida ou ainda uma escola de filosofia ou doutrinas. Um sectator é um guia leal, aderente ou seguidor.

As palavras sectarius ou sectilis referem-se também ao corte ou acto de cortar, embora a etimologia da palavra não tenha semelhança alguma com a definição moderna que lhe é dada dentro do contexto atual.


Seita religiosa
Seita designa um grupo de pessoas (um movimento) que professam nova ideologia divergente daquela da(s) religião(ões) que são consideradas dominantes e ou oficiais, geralmente dirigidos por líder com características de personalidade consideradas carismáticas, mas ainda com fraco ou pouco reconhecimento geral por parte da sociedade. Mas, já se viu, a questão do reconhecimento é tão-apenas relativa.

Em oposição, o termo denominação religiosa é utilizado para designar os movimentos com reconhecimento geral na sociedade, embora, no Islão, os grandes grupos de seguidores wahhabis, xiitas e sunitas sejam considerados por muitos como seitas.

Muitas das chamadas "seitas" desmembram-se, cessam ou mudam de direção ideológica e/ou doutrinária com o desaparecimento dos seus líderes. Outras vezes, na ampla dinâmica histórica, aqueles outrora ditos "seitas" passam a assumir posição de domínio.

Do ponto de vista legal, os estados ocidentais passam a reconhecer as seitas religiosas como denominações religiosas quando estas obtêm registro oficial como pessoa jurídica, embora a perseguição religiosa e as injunções de manipulação de poder nem por isso se extingam. Com efeito, têm sido uma prática constante ao longo dos tempos para os grupos considerados como seitas.


No dealbar do III milênio
Seita, na significação mais coloquial, diz respeito a tudo aquilo que é socialmente inaceitável, onde vigora o fanatismo, o culto a personalidade, a lavagem cerebral, como o que aconteceu com a seita do Reverendo Moon e Pyotr Kuznetsov, o líder da seita russa que levou os seus seguidores para uma caverna em 2007 para aguardarem o fim do mundo, até o extremo em que todos ameaçavam cometer homicídio. Em geral estes pequenos grupos são fechados, tem rituais secretos e não respeitam a leis do pais em que vivem.

Um outro aspecto polêmico da palavra seita é quando alguém se arroga no direito de prestar uma desinformação a opinião pública, chamando de seita denominações religiosas organizadas tradicionais e com grande identidade religiosa e cultural na história recente da humanidade. Para tal, tomando por bases, unicamente suas convicções religiosas para julgar, criticar, perseguir, discriminar e tentar convencer aos adeptos de outras religiões, que todos estão errados menos os que compactuam com seus pontos de vistas fechados e isentos de alteridade - justamente aquela qualidade que respeita ao outro e valoriza a diversidade de opiniões, de crenças e a liberdade de pensar. Se ponderarmos sobre o significado de seita no dicionário brasileiro Houaiss: "Sociedade cujos membros se agregam voluntariamente e que se mantém à parte do mundo." infere-se que existem muitos grupos que podem até vir a ser considerados um tipo velado de seita, dedicada a conquistar corações e mentes para propósitos questionáveis como por exemplo: criticar e atacar outras manifestações religiosas, tentando achar "defeito e erros" doutrinários e, o pior: tentando "salvar" as pessoas de suas própria liberdade de escolher no que ela deseja confiar e crer. Tal tipo de perseguição não encontra espaço no dealbar do III Milênio - na era da tecnologia da informação e na era da construção colaborativa do conhecimento. Hoje há diversidade em tudo até na opção de ter ou não uma religião, crer ou não em Deus, enfim cada escolha é um exercitar da liberdade de consciência individual. Graças aos esforços pelo saber colaborativo, tudo o que é dito ou escrito na web aqui ou acolá, pode ser rapidamente confirmado, on line, ao clicar do mouse. A ditadura do consenso está cedendo lugar ao espraiar do conhecimento e a uma seletividade natural pela informação correta - esta sobrevive enquanto a informação falsa fenece pelo seu caráter de desinformação.


Num olhar cristão fraternal, em relação a todas as igrejas, denominações cristãs, e demais expressões da religiosidade brasileira, num pais de um profundo sincretismo religioso, (mais de 30 denominações religiosas) que tem seu registro constituído legalmente nos órgãos públicos competentes e que mantem suas sedes, ou igrejas abertas ao público em geral, não está coerente, nem é moral, nem correto, serem taxadas de seita, no sentido pejorativo desta palavra. Pelo princípio da alteridade todos tem que ser respeitados à luz do direito constitucional da liberdade de culto religioso e no quesito da tolerância, a lei Federal LEI Nº 7.716, DE 5 DE JANEIRO DE 1989, conhecida como lei Caó, está ai para tipificar o crime de discriminação religiosa e estabelece punição no seu "Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Pena: reclusão de um a três anos e multa."

Respeitar o direito do outro de ter a sua liberdade de consciência e de expressar sua religiosidade é um imperativo moral e ético. A observação deste princípio é uma pedra fundamental para convivência pacífica. É um dos pilares da vida democrática e um elemento que promove a civilidade e a humanidade em contraposição à intolerância, a crítica, ao preconceito e toda a forma de discriminação. O Brasil tem avançado muito, um exemplo foi a promulgação do dia 21 de Janeiro como sendo o "Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa".